sexta-feira, 11 de março de 2011

Carnavalizando...

Meu sumiço, explicável mesmo que nem sempre justificável, prossegue. Laryssa diz que
precisa parar de procrastinar. Se uma pessoa assim fala isso, que direi eu sobre mim?!

Adoro escrever, mas ao mesmo tempo é algo terrível para mim. Vem a vontade que chega mesmo a tornar-se necessidade; daí as palavras me encaram, me sorriem e seguem adiante. Parecem com minhas paqueras preguiçosas de carnaval: olho, sorrio, brinco e continuo meu caminho. Minhas frevanças e marchinhas dificilmente são interrompidas. Aproveitando o gancho da comparação esquisita e mal explicada, falemos da minha pobre visão e humilde vivência no badalado, fervoroso, frevoroso, delicioso, enlouquecedor, encantador Carnaval do Recife (que é mais do que apenas Carnaval!).

Mas só um pouquinho antes disso, quero explicar que elogio a um não significa demérito doutro. Vocês já entenderão por que falo isso agora. A nossa desvairada, monstruosa, tentadora, cheia de ofertas, de contrastes negativos e positivos, e famosíssima Paulicéia tem atributos de primeiro mundo, motivo de orgulho brasileiro. Infelizmente e quase redundantemente tem também muito potencial ainda não tão valorizado/trabalhado, vá lá. Na nossa brasilidade entendemos que não há aí novidade. Porém, contudo, todavia, não obstante tantos créditos, para nós que viemos da terra do sotaque fera, do povo arretada, das resenhas e fuleirisses, das tabacudisses, dos dois beijos, do frevo que entra na cabeçatomacontadocorpoeacabanopé a diferença é bem notável entre o nosso calor humano e o calor do paulista (vai, até que fui legal em não falar "frieza"). Eu acho uma graça a educação, a diferença da maneira em cumprimentar um estranho. Em Sergipe pouco - praticamente nunca - vi isso acontecer: você estar com um amigo e chegar na roda de outros amigos dele e todos te cumprimentarem; as pessoas só falam com quem já conhecem e dificilmente trocam um olhar para pelo menos sorrir pra você. O paulista diz o famoso "Tudo bom?" com aquele jeitinho cantado até suave (por que sim, a minha conclusão pessoal é que no Brasil todo mundo canta, apenas o ritmo muda) e te puxa para a conversa. O engraçado é que se a gente se encanta por isso, talvez esse seja o choque: ver a coisa parar mais ou menos por aí. Eu gosto é de colo, de abraço, de beijo, de cheirinho. E aí que se você nao conhece muito a pessoa, não tem intimidade para fazê-lo e se conhece provavelmente a vê com frequência, o que tecnicamente, dispensa a necessidade de estar sempre cumprimentando. Se todo castigo pra corno é pouco, todo carinho pra nordestino também é.

E aííí 2500km e alguns meses depois a gente não se conforma, mas se acostuma. Fazer o que, né? Pois bem. Ludmila vai voando na tora pra Recife (fazendo uma maratona de mais de 24 horas acordada, diga-se de passagem), para chegar a tempo de conseguir uma vaga em qualquer voo antes que lotem todos e eu perca qualquer segundinho do Carnaval Multicultural do Recife <3.

Então o coração acompanha os maracatus, todas as marcações de cada frevo novo e antigo. E os olhos brilham, o sorriso não cabe no rosto e até sem saber dançar a gente dança. Vai no pulo mesmo, de um lado pro outro, só com os dedinhos pra cima, canta a letra dificílima de Vassourinhas e se deixa levar. É o esquema. Sentir tanto calor, tanta alegria, junto com a família e bons amigos agregados (quando todos nos reuníamos nos locais combinados nunca estávamos em menos de dez pessoas) não tem preço. Claro que o calor vai mais que o humano: gente, Recife tá enlouquecedoramente (?) quente! A gente toma banho, sai e já chega no lugar meio suado. Claro que voltamos para casa com cara de quem chegou da guerra - e claro, venceu - toma outro banho, dorme. Acorda, toma outro banho e descansa para a noite. Com a casa cheia. É irmão, mãe, tia, primas, prinhados, amigos, tudo que é tipo de gente. E toma mais um banho pra sair e chegar suado no lugar, haja cerveja, haja água, haja haja haja... Mas sabe né? Calor gera calor, a gente pega é fogo! Assim é que é massa. A gente canta a mais repetida do Galo "Ah que calor ô ô! Ah que calor ô ô! Ah que calor ô uô ô uôôôô!" e joga água pra cima e leva cerveja nas costas e passa a patinar ao invés de pular. Samba pra quem tem samba no pé, Odair pra resenhar e amar, Quanta Ladeira pra escrachar e f***r todo mundo, Cirandas sobre sereias, Marchinhas sobre saudade que se tem, Frevo sobre saudade do Recife. E é de se entender quando olho para o lado e vejo Edgar Piccoli de olhos fechados, sorrindo e cantando uma das "nossas" marchinhas notavelmente encantado ou quando se diverte ao nos ver dançar sem parar e sem aguentar mais. Sim, é quase um masoquismo. A gente senta e diz "Não aguento mais, tudo dói", aí toca aquela, aqueeeeela famosa que todo mundo sabe e não deixa ninguém parado, e você levanta com as pernas bambas e lá se vai novamente. Quando pensa em descansar, acontece isso de novo...E de novo. Por que no fim eu quero saber uma música nossa que deixe alguém parado se não for por êxtase. Minha satisfação foi tanta que confesso, chorei. O coração aperta quando a gente não tem certeza de quando terá isso de novo...Uma escala folgada assim, uma brecha pra frevê um diazinho que seja.

E aí a gente seca a lágrima danada, por que ela é de dor e alegria ao mesmo tempo. E vai pular mais um bocado e rir muito mais ainda, por que quando menos esperamos fecham-se os olhos e a gente tem vontade de chorar mesmo é "quando o dia amanhece e eu vejo o frevo acabar, ó quarta-feira ingrata, chega tão depressa..." Mas eu me diverti muito. Impagável carnaval. Salve ó terra dos altos coqueiros, Salve ó Leão do Norte. A gente respira fundo, sorri e segue. O coração tá abastecido da boa e velha Pernambucanidade, sem "j" entre os d's, com todo rexpeito. :)