sexta-feira, 13 de maio de 2011

"Vai desceeeer, motôôô!"

Em São Paulo, dentro do ônibus.

Você pede parada porque quer descer na próxima (ou no próximo ponto, como dizem os paulistas). Aqui a gente aperta o pitoquinho laranjinha que, em Recife, nunca funciona. Lá a gente puxa a cordinha. Ok, o motorista, simplesmente, ESQUECE de parar na parada. E você, sem querer ser galerosa, fala médio baixo: "Motoriiiista, vai descer. Dá para abrir aqui, por favor?". Detalhe, o ônibus em TOTAL silêncio, as pessoas lhe olham e você, que já estava tímida, se TOLHE ainda mais e quase pede perdão por esse absurdo que foi pedir para o motorista parar no ponto que você havia dado sinal. O único barulho naquele grande ônibus lotado era o cri, cri, cri...

Ok, de cara lavada, você desce na próxima e volta andando um bocado para chegar no trabalho.  

Em Recife, dentro do ônibus...

Puxo a cordinha para descer na parada e, obviamente, o motô não pára o ônibus. Eles esquecem que é uma beleza. Você, puta da vida, mas com uma voz calma e tímida (não curto gritar, minha gente, acho galeroso demais): "Motoriiiista...". Opa! E quem disse que eu preciso falar o resto da frase? Sou interrompida pelos passageiros que estão do meu lado e, comovidos, dão umas batidas na porta um tanto pesadas e GRITAM: "Ô, motôôôô, pára o 'carro' que a menina vai desceeer, motô!". O motô pára o ônibus e eu, como uma lady, agradeço a gentileza dos colhegues e desço. Hehe.

E caminho feliz e rindo com a situação cômica dos galerosos do ônibus. Foi legal.

Pois bem, resumo da ópera: noto que em Recife (isso não aconteceu só uma vez, muito menos só comigo), as pessoas se comovem. Um pouco, mas, sim. Em São Paulo, todavia, nunca vi isso acontecer (ainda, eu espero). O que não dá é para a gente levar isso para todos os departamentos da vida, né?

Paralelamente a esse fato engraçado (que eu contei um dia desse no café a uma amiga paulista queridíssima, que disse, depois de várias risadas: "esse fato tem que ir pro blooog!"), graças ao bom PAI, as pessoas se revoltaram hoje na internet, depois que os moradores de Higienópolis, um dos bairros mais phynnos de São Paulo, conseguiram que o Governo do Estado não continuasse com o plano de construir uma estação de metrô na Av. Angélica, uma importante do bairro. Dá pra crer? Alegaram que o bairro requintado iria se popularizar, se rolasse a estação de metrô lá. Se tu ainda não acreditou, saca aqui. Acontece que eu confirmei presença no Churrascão da Gente Diferenciada. Fááários e fááários "protestos" sobre essa babadeira estão rolando pela web. E as Redes Sociais, novamente, aliam-se ao povo. 

Então tá. Fico feliz com esse fato de Higienópolis

Tolhida, com vergonha e estagnada, eu fiquei com esse fato: estava eu no ônibus, mais uma vez, e entra um mendigo mal cheiroso. Pela frente, ía pagar a passagem e tudo mais. O motorista, do nada, se revolta, e pede para ele descer, pois ele estava incensando o local. PÁRA o ônibus (agora ele sabe parar), sai da sua cadeira e diz que o moço não vai ficar no seu carro com aquele cheiro, não. Eu, bes-ti-fi-ca-da, fiquei olhando sem acreditar. Tá ligada na situação? E converso com minha colhegue: "peraí, é sério isso que eu tou vendo? Ei, pô, a gente não vai fazer nada? Ninguém fala nada?". Sério. Eu me senti extremamente vetada. Sabe quando você fica alguns segundos sem sacar o que é certo e errado, achando que você tá muito locs? Eu tava errada ao pensar que ele estava fazendo algo bizarro? As pessoas tavam certas em "só olhar"? Todo mundo calado, mais uma vez. Quem cala consente? Ai, ai. Eu me decepcionei comigo. Acabei ficando calada também. O moço, sem retrucar, desceu do ônibus. Não precisava tamanha grosseria do motorista. Também seria interessante se alguém tivesse debatido com ele, argumentando que, perante a lei, todos devem ser tratados igualmente. Ninguém o fez. Nem eu. E se fizesse, que aconteceria? Alguém arrisca? Mafalda ficaria decepcionada, se tivesse visto isso. E orgulhosa com o caso Higienópolis e revolta pelo mundo virtual.


A lição que fica: cuidado. Não, não dá para deixar a vida passar e ficar no cri, cri, cri...
A gente precisa ser mais sem vergonha. 

Palavriados traduzidos:

Ponto para Paulista; parada para Pernambucano.
Botão para Paulista; pitoco para Pernambucano.
Mano, maloca, maloqueiro, função para Paulista; galeroso/maloqueiro/tirador de onda para Pernambucano.

Beijos, queijos e nada de cri-cri-cri...